terça-feira, 4 de outubro de 2016

Médica é Ciência?

Leticia Karina Oliveira dos Santos - Medicina é ciência?

Pensar em Medicina vai além da concepção cartesiana do cientificismo e tecnicismo, pois ter o saber reduzido à apenas essa característica limita refletir sobre a infinidade de relações e implicações que acompanham a profissão médica. O dualismo humano com a separação entre corpo e mente desconsidera o homem como um todo e corrobora com a classificação das pessoas em apenas dois grupos, os doentes e os sãos, muito bem colocado por Canguilhem (1995), padronizando-o na sociedade e não considerando a individualidade de cada um. O homem foi limitado ao corpo e a ciência sobre ele. (CAIRUS, 2005)
A Medicina na contemporaneidade concentrou-se tanto no empirismo e em cada vez estudar partes menores do corpo que desenhou o conhecimento como algo fechado deixando de acompanhar a aqueles que serve, sua amplitude. Ou seja, a área do conhecimento médica não apenas possui a ciência com suas partes, mas também possui uma natureza prática, artística, psicológica, ecológica, social que deve considerar o homem como ente integrado à natureza e sociedade ao seu redor. Uma vez vista dessa maneira, não apenas a figura médica tende a ser modificada como também a forma como se enxerga o paciente e se constroi a educação profissional.
Na pratica médica é impressionante como a absorção de tecnologia ocorre de maneira inadequada e tomou tanto espaço , pois de complementar transformou-se em essencial. A arte do apalpar, examinar o todo, o brincar (MITRE, 2000) e do ouvir o paciente muitas vezes foi substituido pelos exames laboratoriais. As habilidades também fazem parte da Medicina. 
Uma outra questão esta nas Práticas Integrativas e Complementares que sempre foram negligenciadas no Ocidente e muitas vezes, até mesmo, dasvalorizada, uma vez, que possuem abordagens diferentes como a música, a fitoterapia, meditação. Essas formas de trabalhar saúde deixam muito evidente o multicaracter da Medicina, não podendo ser vista exclusivamente como ciência exata. A Medicina como um todo deve voltar-se a atenção para o estilo de vida, alimentação, relações sociais, seu estado emocional, seu descanso. A interação médico-paciente exige do médico muito mais do que cientificismo, exige também amor a profissão, conforto, criatividade. A criatividade pode ser vista na forma de abordar o paciente para que se torne mais efetiva, na criação da terapêutica para que seja individual e eficiente, na forma de escrever para melhor se aplicar ao paciente. Ou seja, medicina também é ter criatividade.

(1943,1995) CANGUILHEM,G. O normal e o patológico, trad. Maria Thereza Redig de Carvalho Barrocas e Luiz Octavio Ferreira Barreto Leite. – 4a. Ed.- Rio de Janeiro, Forense Universitária.
(2000) MITRE, Rosa Maria de Araújo. "Brincando para viver: um estudo sobre a relaçäo entre a criança gravemente adoecida e hospitalizada e o brincar.".
(2005) CAIRUS, H.F e RIBEIRO Jr, W. A. Textos hipocráticos: o doente, o médico e a doença. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2005

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