terça-feira, 4 de outubro de 2016

Relato de Experiência

RELATO DE EXPERIÊNCIA

ESTUDO DE MEIO PELOS APRENDIZES DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA/IMS NO PARQUE MUNICIPAL DA LAGOA DAS BATEIAS

Indiry Caroline Ferreira Silva;
Leticia Karina Oliveira dos Santos;

Os cursos de Medicina tradicionais demoram a propiciar atividades de inclusão do aluno de medicina na construção de seu conhecimento dentro da realidade em que vive e deixam muito tempo o discente buscando conhecimento exclusivamente por livros e absorvendo de forma transmisssiva sendo futuramente apenas um repedidor de conteúdos teóricos.
O Projeto Político Pedagógico do curso de medicina da Universidade Federal da Bahia (UFBA) do Instituto Multidisciplinar em Saúde (IMS) tem como modelo um currículo hibrido, onde a formação integral do indivíduo é pautada numa aprendizagem significativa e problematizadora em que para isso faz-se necessario o uso de metodologias ativas como estratégia de aprendizado de estudo de meio.
A atividade interdisciplinar programada foi realizada unindo alunos e professores de biologia da própria UFBA/IMS com alunos e professores de medicina no Parque das Bateias. Inicialmente todo coletivo teve contato com o coordenador do parque José Renato Barra de Souza que forneceu informações sobre a localidade.
O Parque possui área aproximada de 53 hectares e foi fundado em junho de 2007,  já que a lagoa é de grande importancia para a questão paisagística da cidade. No entanto a mesma encontra problemas como a localização que é mais baixa do que a vizinhança recevendo águas pluviais da área urbana vizinha que tem o saneamento básico comprometido. Um dos problemas relacionados esta no esgoto que apesar de todos os bairros circuvizinhos possuem rede de esgoto a população por motivos diversos não ligam às residências mantendo a céu aberto ou o sistema de foça que em conjunto com as chuvas acabam escorrendo para ao parque e lagoa. [4]
Frente a essa problemática a equipe foi separada em 3 subgrupos. O primeiro teve contato com a população para entendimento da relação das pessoas com o parque, o segundo fez reconhecimento de área e coleta de terra e o terceiro subgrupo, o específico desse relato, fez coleta de água de duas extremidades da lagoa.

Metodologia

A coleta foi realizada com as devidas precaucões de segurança como botas e luvas, além de terem sido colocadas em vasos plásticos virgens.
Após a coleta foram aguardados 5 dias para a realização observação microscópica com lâminas preparadas pelos próprios aprendizes.

Resultados, discussão e conclusões

A visita realizada na Lagoa das Bateias em Vitória da Conquista, foi de grande relevância para entender a dinâmica de uma comunidade e como os diversos fatores presentes no meio ambiente circundante são elementos chaves no processo saúde-doença. Segundo a secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, na Instrução Normativa 01/2005, saúde ambiental compreende a área da saúde pública afeita ao conhecimento científico e à formulação de políticas públicas relacionadas com a interação entre a saúde humana e os fatores do meio ambiente natural e antropogênico que a determinam, condicionam e influenciam, com vistas a melhorar a qualidade de vida do ser humano sob o ponto de vista da sustentabilidade [1].
           O Parque da Lagoa das Bateias foi construído em junho de 2007 e tinha como objetivo conter a água proveniente dos bairros circunvizinhos que anteriormente provocava inundações em épocas de chuva. Muitas famílias que moravam nesse local foram desapropriadas e, segundo o coordenador do parque, a maioria foi ressarcida e passaram a morar em outros locais. No entanto, ainda hoje, existem famílias com processos contra a prefeitura.
           A lagoa é circundada pelos Bairros: Santa Helena, Urbis 2 e Vila Serrana. Um erro de cálculo no projeto do Parque das Bateias provoca o empossamento e transbordamento de água dado que não possui um sangrador, o que aumenta o risco de enchentes e adoecimento da população durante o período chuvoso.
Segundo o coordenador a população da área ainda realiza o descarte de esgoto na lagoa, apesar de possuírem ligação de água e esgoto, o que prejudica o ambiente. Os compostos orgânicos provenientes do descarte irregular do esgoto provoca o aumento da proliferação de vários tipos de animais como protozoários, algas, bactérias, entre outros, e serve ainda de alimento para peixes. Foi relatado também a realização de pesca ilegal no local e comercialização de peixes pelos pescadores na busca de uma fonte de renda familiar dado que a maioria possuir renda per capita inferior a 1 salário mínimo.     Entre as espécies presentes na lagoa, relatada pelo coordenador, estão o Bagre africano considerado resistente e a Tilápia que é uma espécie preferida pelos pescadores.
Esse fato representa um importante foco de doença para a população dado que a fiscalização é inexistente e a lei da oferta e da procura é predominante. Sabe-se que o consumo de peixes contaminados pode trazer sérios problemas de saúde para a população como infecções bacterianas, virais, parasitárias e intoxicações como toxi-infeccções, biotoxinas e intoxicações e químicas [2].
           Em relação a espécies de plantas existem dois tipos de espécies invasoras entre elas as Taboas e a Baronesa (rasteirinha). Essa última é considerada invasora e apresenta grande proliferação no local dado que não tem uma espécie que possa competir com ela o que gera desequilíbrio ambiental.
           No parque das bateias a população realiza atividades de lazer como ciclismo, caminhadas, corridas, entre outros. No entanto, ele se apresenta pouco seguro do ponto de vista ambiental dado que apresenta uma série de focos de contaminação tanto na areia como na água.
 Durante a visita foi a observado a presença de crianças que andavam com os pés descalços e brincavam perto do parque da lagoa. Segundo o coordenador, existem pessoas que ainda nadam nas águas da lagoa o que revela a falta de informação da população sobre os perigos para a saúde humana do contato com o ambiente contaminado.
           Além disso, muitos carroceiros colhem capim na área do parque para alimentar os animais. Esse capim por sua vez está contaminado o que representa risco de doença para o homem e também para os animais.
Verificou-se a presença de urubus na área devido o descarte incorreto do lixo o qual é jogado ainda pela população na área apesar de existir a coleta de resíduos sólidos. Isso, muitas vezes dificulta a decolagem de aviões na área aumentando o risco de acidentes aéreos.
           Observou-se ainda a falta de ações de educação em saúde para conscientizar os pescadores e a comunidade da área acerca dos problemas ambientais verificados e suas implicações para a saúde humana e a atividade de piscicultura realizada e os riscos do consumo de peixes contaminados para a saúde humana.
           A literatura indica que as necessidades de saúde da população são muito mais amplas do que as que podem ser satisfeitas com a garantia de cobertura dos serviços de saúde.  A sua dimensão é relacionada a vários fatores incluindo a precariedade do sistema de água e de esgotos sanitários e industriais; o uso
abusivo de defensivos agrícolas; a inadequação das soluções utilizadas para o destino do lixo; a ausência ou insuficiência de medidas de proteção contra enchentes, erosão e desproteção dos mananciais; e os níveis de poluição e contaminação hídrica, atmosférica, do solo, do subsolo e alimentar [3].
           A coleta de água realizada mostrou que a “lagoa morta” possui muita vida. Na análise da água foram encontrado diversos protozoários e alga. Euglenas, Vorticela, Paramécium, entre outros organismos verificados no microscópio durante a aula prática no laboratório de Zoologia.
           Algumas dificuldades foram encontradas durante a realização da atividade entre elas: a falta de conhecimento para identificar os protozoários, algas ou outros seres vivos e reconhece-los. O grupo não soube compor a prancha para identificação dos patógenos. Um outro aspecto foi a dificuldade para entender sobre o assunto e visualizar ao microscópio e identificar os seres vivos encontrados. Sendo sugerido uma melhor orientação acadêmica para melhor se entender sobre o assunto.

Conclusão
A partir da visita realizada verifica-se que é de extrema importância a realização de uma ação interssetorial que envolva a participação dos setores ambiental, da saúde e da educação para o planejamento de ações de educação em saúde para melhor orientação da população acerca dos perigos do ambiente circundante como fator de riisco no processo saúde doença. As ações de saúde ambiental compreendem, segundo a literatura, a identificação e caracterização de fatores de risco para a saúde originados no ambiente; o planejamento de ações de prevenção e promoção da saúde; o desenvolvimento de ações de controle e vigilância sanitária de sistemas, estruturas e atividades com interação no ambiente.
Como o fator renda ainda é uma questão preponderante na população local, em que a maioria da população carece de recurso financeiros, deve-se realizar ações de capacitação técnica para as famílias da área com o objetivo de agariar recursos financeiros para estas. Essas ações podem incluir a realização de oficinas de culinária, beleza, artesanato entre outros, o que pode melhorar o acesso a outras fontes de renda. Além disso, deve-se realizar uma melhor fiscalização do local de forma a inibir a pesca ilegal.

Referências Bibliográficas
1.  Rouquayroll, Maria Zélia; Gurgel, Marcelo; Epidemiologia e Saúde, 7º edição. MEDBOOK, Editora Científica.
2.  FAO; 2009. Huss, HH. 1993. Assurance of seafood quality. Chapter 3 – Quality aspects associated with seafood. Food and Agriculture Organization of the United Nations, Rome.
3.  Moraes, Danielle Serra de Lima; Jordão Berenice Quinzani; Degradação de recursos hídricos e seus efeitos sobre a saúde humana. Rev Sa˙de P˙blica 2002;36(3):370-4. Disponível em< http://www.scielo.br/pdf/rsp/v36n3/10502> Acessado em 14 de setembro de 2016.
4.  Costa, E. B.; Filho, A. O. S.; Almeida, C. Q.; Nascimento, C. G.; Cerrado, A.  Estudo do parque da Lagoa das Bateias em Vitória da Conquista, Bahia. In: VII Congresso Brasileiro de Geográfos (VII CBG), 2014, Vitória/ES. ISBN:978 -85-98539-04-1



Nenhum comentário:

Postar um comentário